A coragem destas horas não se joga apenas na primeira frente de combate às consequências do ciclone, mas também na resiliência e ousadia necessárias para pensar no que poderemos construir e reconstruir depois. Talvez seja claro que não poderemos simplesmente voltar ao antes, pois esta experiência traumática não foi apenas uma interrupção. Tudo o que acontece agora é desafiante: temos de reconstruir e reiniciar o caminho, no confronto com uma nova realidade, ainda numa situação instável. Acho oportuno que

Se reflita, pois este evento tocou profundamente cada um de nós, como pessoas; e tocou as nossas estruturas comunitárias, eclesiais e de serviço educativo e social. Por isso permito-me partilhar alguns pontos, nestes termos:

  1. Descrição do ciclone Freddy
  2. O impacto devastador do Ciclone Freddy
  3. As duras lições do Ciclone Freddy
  1. Descrição do Ciclone Freddy

O Ciclone Freddy, atingiu a costa da Zambézia no Sábado do dia 11 a Domingo do dia 12 de Março, com seu epicentro no distrito de Namacurra, localidade de Macuze, com ventos de 148Km/h e rajadas ate 213Km/h, e chuvas fortes, demais de 200 mm, afectando as províncias de Zambézia, Sofala, Nampula, Manica.

  • O impacto devastador do Ciclone Freddy (Fonte:INGD)
  • Danos Humanos
  • Registo de 165 óbitos
  • 511 pessoas feridas
  • Impactos na população
  • Pessoas afectadas: 886,487 pessoas (correspondentes a 191,146 famílias)
  • Pessoas deslocadas: 98,975 pessoas
  • Casas destruídas
  • 70,502 casas parcialmente destruídas,
  • 103,101 casasto talmente destruídas,
  • 24,889 casas inundadas

Outros danos

  • 85 unidades sanitárias destruídas parcialmente
  • 2,549 salas de aulas destruidas,
  • 230,329 alunos afectados,
  • 4,337 professores afectados,
  • 1,017 escolas afectadas
  • 5,059 km de estradas afectadas
  • 347,862 ha áreas afectados
  • Infraestruturas eclesiasticas destruidas pelo ciclone
  • Paróquias da Sé Catedral,
  • Sagrada Família,
  • Santos Anjos de Coalane,
  • Nossa Senhora de Fátima de Namacurra,
  • Mugogoda,
  • Inúmeras propriedades de padres e irmãs, como casas, escolas, seminários e orfanatos um pouco por toda Diocese de Quelimane.
  • As duras lições do Ciclone
  • O processo Gerado pelo ciclone manifestou e manifesta as assimetrias e os egoísmos do velho mundo, na mesma nos fez compreender que estamos no mesmo barco e que só poderá haver futuro na cooperação e na implementação de outros modelos de existência coletiva.
  • Vimos já na cidade episódios desagradáveis: o furto das chapas e outros bens das casas. Isto nos deixa o desafio de reconstruir não somente as casas e outras infraestruturas, mas também o tecido social e humano, para que o outro não seja rival, estranho e inimigo, mas sim semelhante e aliado, irmão que caminha connosco.

3.O ciclone nos fez ver o rosto terrível da natureza, e muitos pensarão que é uma vingança da natureza contra a nossa exploração e desprezo. Será uma ocasião para fazer crescer a ideia de que a terra e o cosmos são sistemas vivos, com o seu equilíbrio e as suas regras, que exigem respeito (Veja-se a Laudato Si).

4.Torna-se evidente que está tudo interligado, como insistiu o Papa Francisco na encíclica “Laudato Si”: o grito da terra e o grito dos pobres, a situação sub-humana, a questão comdena das multidões de seres humanos mesmo dentro da nossa cidade, e a fragilidade ignorada do planeta.

5.Quem sabe lá…o ciclone nos empurre na direção de construir a uma escala mais humana para a convivência, para a arquitetura das nossas cidades e para a qualidade das nossas relações.

6.As nossas cidades serão lugares de integração ou mais uma vez de exclusão? Bairros ricos e bairros pobres, cidade de cimento e cidade de barracas… Haverá novas políticas urbanas que sejam capazes de dar a todos o direito a uma habitação condigna?

7.Por fim creio que o ciclone seja uma ocasião imperdível para que triunfe uma visão mais integrada da vida, que compreenda a importância de valores como a compaixão e o cuidado, o dom, a gratuidade e a partilha, que nos capacite para uma síntese mais equilibrada entre pessoa e comunidade, entre vida material e vida espiritual.

Maputo, aos 23 de Abril de 2023

Frei Dércio Dinis Xerinda Ofm. Cap

(Reelaborado a partir de um texto do Cardeal José Tolentino, no Jornal Expresso,18.04.2020)

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